Por: Marcus Araújo, Acadêmico de Comunicação
Data: 12 de setembro de 2024
O painel I “Desmistificando a Eletroconvulsoterapia (ECT)” deu início a III Jornada no HEAL. Com entusiasmo, o Dr. Júlio Vieira começou a palestra lançando um questionamento para o público “qual o maior inimigo do conhecimento?” e “vocês indicariam a eletroconvulsoterapia para seus familiares?”. A partir destas perguntas, o especialista iniciou a palestra passando pela história desta técnica, desde o uso da cânfora ao longo dos séculos até a revolução da eletroterapia com a chegada da eletricidade.
Dr. Júlio explicou que o primeiro caso testado aconteceu em um senhor italiano, a partir da invenção da máquina de eletroconvulsoterapia, o mesmo apresentava quadro desorganizado e psicótico andando pelas ruas de Roma. “O teste da eletroconvulsoterapia nesse paciente foi uma revolução. Esse paciente desorganizado psicótico melhorou após algumas sessões. Então a indução de uma convulsão terapêutica para fins terapêuticos, um sofrimento mental através da eletricidade se mostrou muito mais segura e eficaz”, explicou.
Após obtenção deste resultado positivo, vários outros pacientes foram sendo submetidos à eletroconvulsoterapia. Os testes começaram a ser aplicados em pacientes graves. Dr. Júlio destaca que, apesar dessa revolução, ao longo dos anos, o uso foi criando o estigma que existe até hoje sobre a prática.
“Foi principalmente a partir da década de 1950 e 1960 que começou a ter um declínio na indicação deste tratamento. Tudo aquilo que é utilizado de forma inadequada, sem critérios científicos, sem indicação clínica, não podia dar certo. A convulsoterapia começou a ser utilizada como tortura e de forma inadequada. Com isso a técnica passou a ser estigmatizada”, salientou.
O médico afirmou que a ECT teve um ressurgimento considerável a partir das décadas de 1980 e 1990, especialmente em resposta às limitações dos medicamentos da época. Apesar dos avanços na psicofarmacologia, uma parte significativa dos pacientes não respondia adequadamente aos medicamentos ou necessitava de tratamentos adicionais. Com o avanço dos métodos científicos, começaram a realizar ensaios clínicos rigorosos para validar a eficácia deste tratamento e demonstraram que a técnica era não apenas eficaz, mas também, em muitos casos, superior aos medicamentos. A modernização deste método, com o uso de anestesia e relaxantes musculares, ajudou a tornar o tratamento mais seguro, contribuindo para a revalorização da prática clínica.
“O que respalda uma técnica? Conhecimento científico. Passaram a fazer ensaios clínicos randomizados duplos cegos com placebos para ver se eletroconvulsoterapia era uma boa técnica ou não. E não só isso, começaram a humanizar a técnica”, disse o médico.
Ao decorrer da palestra, o especialista abordou o mecanismo da ECT e as teorias sobre como ela atua. Explicou também que, embora o funcionamento exato da eletroconvulsoterapia não seja completamente compreendido, ela induz uma convulsão terapêutica que tem efeitos positivos no tratamento de transtornos mentais. Ele mencionou que a ciência ainda está investigando como a ECT funciona, além de citar a teoria de que a técnica pode ajudar a “acalmar” o cérebro quando este está hiperativado ou “neurointoxicado” por excesso de neurotransmissores.
Embora essas teorias tenham alguma evidência, o Dr. Júlio destacou que mais pesquisas e estudos são necessários para confirmar esses mecanismos. “Se o cérebro está neurointoxicado, a ECT diminuiria esse excesso de glutamato e o cérebro ficaria estável novamente. Isso é apenas uma teoria. Por que eu falo que é teoria? Porque temos que estudar mais”, confirmou.
Apesar de precisar de mais estudos, Dr. Júlio salientou que a eletroconvulsoterapia é particularmente eficaz para tratar formas graves de depressão, incluindo aquelas resistentes ao tratamento, com risco de autoextermínio, e depressões em idosos. Ele destacou que a ECT tem evidência científica robusta, demonstrando taxas de resposta de 70% a 80% para esses pacientes. A técnica também é eficaz para transtornos bipolares, mania e esquizofrenia resistente a medicamentos.
Com a abordagem sobre outras condições para as quais a ECT pode ser indicada, como a esquizofrenia resistente a antipsicóticos, ele ressaltou que a técnica pode ser eficaz até mesmo para o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e para pacientes que não podem usar medicamentos devido a efeitos colaterais ou outras restrições.
Sobre a segurança da ECT, o médico comparou o risco de mortalidade a outros procedimentos, apresentando uma taxa muito baixa de 0,002% a 0,01%. “É o mesmo risco de uma endoscopia ou até menos. O índice de mortalidade em relação ao procedimento é de um a cada 50.000 pessoas, ou seja, 0,002%. Agora, o risco no indivíduo é 0,01%. Isso é um a cada 10.000”, explicou.
Para ilustrar toda a explicação, foram mostrados dois vídeos de simulação de todo o processo da eletroconvulsoterapia, fazendo um paralelo de como o tratamento pela ECT funciona no Instituto HEAL.
Ao final da palestra, o Dr. Júlio retoma o primeiro questionamento do início do evento: “Vocês indicariam a eletroconvulsoterapia para seus familiares?”. E com o retorno positivo, o primeiro painel completou com sucesso a abertura da III Jornada.
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